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Estranhas coincidências no concurso da filha do reitor da UFLA, cuja posse foi vetada pela Justiça Federal


Por ANDRÉ LUIS FONTES
no Campus da
Universidade Federal de Lavras

A respeito da decisão da Justiça Federal, publicada no Diário Oficial da União no último dia 21, que impediu a eventual posse da filha do reitor da Universidade Federal de Lavras, José Roberto Scolforo, no concurso em que ela, Roberta Ferraço, teria sido aprovada em primeiro lugar, algumas situações peculiares permearam o certame, entre elas a participação, como membros suplentes da banca, de duas professoras em específico:
- a primeira foi co-autora, ao lado da filha do reitor, de um livro sobre Direito e Medicina, publicado pela editora UFLA (vide imagem anexa);
- a segunda é pró-reitora de gestão e desenvolvimento de pessoas da UFLA, cargo de confiança do reitor, que é pai da candidata.
Acredito que, por si só, a participação na banca, mesmo que como suplentes, de duas pessoas ligadas diretamente a uma das candidatas causaria a suspeição do concurso. Além disso, teria chamado atenção o fato deste concurso exigir apenas o mestrado (titulação que a filha do reitor possui), haja vista que é usual exigir, primeiramente, o doutorado para cargos de docente efetivo. Além disso, teria provocado estranheza a possibilidade de candidatos com mestrado em Administração Pública (a filha do reitor tem mestrado exatamente nessa área) poderem concorrer. Considerando que o cargo é para "Direito Médico e Gestão Hospitalar", é no mínimo curioso permitir mestrado em Administração Pública, considerando que aparentemente não se vê ligação direta entre as áreas. A falta dessa ligação direta ficaria evidente quando se nota que na formação exigida há apenas as possibilidades de candidatos graduados em "Direito" ou "Medicina" concorrerem, como pode ser comprovado no edital. Apesar de permitir mestrado em "Administração" e "Administração Pública", candidatos com graduação nessas duas áreas (que representam um enorme contingente de pessoas, algumas com experiência por terem atuado na gestão em hospitais) não foram permitidos. A filha do reitor seria graduada em Direito. Também chamou a atenção o fato de um vaga para docente especificamente da área de Direito estar relacionada ao novo Departamento de Ciências da Saúde e não ao Departamento de Direito, como seria o convencional. Por exemplo, docentes de Direito Empresarial ou de Direito Administrativo não estão vinculados ao Departamento de Administração. São professores do Departamento de Direito. Então, teria causado estranheza a criação dessa vaga em uma área do Direito em um departamento tão distinto, como o de Ciências da Saúde. Por outro lado, saberia-se que o reitor supostamente teria mais proximidade com os membros do Departamento de Ciências da Saúde do que com os do Dep. de Direito, ao passo de que a chefe de gabinete da reitoria seria uma docente do Dep. de Ciências da Saúde e de que não haveria representantes do Dep. de Direito no primeiro escalão da direção executiva da universidade. O blog não está fazendo acusações. São apenas indagações. Tudo isso pode ser apenas coincidência, mas o fato é que geraram um desconforto em muitas pessoas da comunidade acadêmica e teriam motivado o surgimento de dúvidas e questionamentos sobre o certame. Pode ser que hajam explicações para tudo isso, mas que teria causado no mínimo muita estranheza, parece que causou. Caso desejem, o blog está à disposição de Roberta Ferraço e do reitor da UFLA José Roberto Scolforo para que façam eventuais esclarecimentos a respeito dessa matéria.

Link sobre o lançamento dos livros entre a filha do reitor e uma membro suplente da banca do concurso: https://ufla.br/arquivo-de-noticias/38-ascom/9083-editora-ufla-lancou-nove-livros-em-solenidade-realizada-na-terca-1512-veja-fotos