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A 80 km DE LAVRAS, FECHAMENTO DE FÁBRICA DE 1,5 BILHÃO DE REAIS E MAIS DE 1.000 DEMISSÕES DEIXA TRÊS CORAÇÕES EM CHOQUE


Trabalhadores na fábrica em Três Corações: mais de 1.000 demissões (Foto: André Luis Fontes)

Pouca gente esperava que o aviso fosse tão direto: em plena manhã de julho, a multinacional ADM, cujo valor da planta é avaliada em mais de 1,5 bilhão de reais, reuniu seus funcionários em Três Corações, a 80 km de Lavras, e anunciou o fim de uma das maiores plantas de ração para pets do país. A decisão, que faz parte de um enxugamento global da empresa, pegou todo o setor de surpresa e levanta um alerta sobre os rumos da indústria brasileira de nutrição animal. Com mais de 500 mil toneladas de produção anual e quase mil funcionários, a fábrica operava como um dos pilares da divisão pet food da ADM na América Latina. Mas, segundo a própria empresa, manter as operações já não fazia mais sentido — mesmo após tentativas frustradas de venda que duraram mais de um ano. A fábrica foi adquirida pela ADM em 2019 como parte de uma estratégia para dominar o mercado pet brasileiro. A unidade chegou a empregar mais de 1.000 pessoas e tinha capacidade para produzir mais de 500 mil toneladas por ano de alimentos para cães e gatos — um volume considerado de ponta, mesmo em padrões internacionais. A ADM tentou negociar a venda do complexo, com valores estimados entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão, mas nenhum comprador apareceu. Diante do impasse, optou-se pelo fechamento definitivo da planta. A cidade de Três Corações, que abriga pouco mais de 80 mil habitantes, sentirá profundamente o baque. A ADM era uma das maiores empregadoras da região, e o fechamento da planta representa uma perda direta de renda, arrecadação e oportunidades. Além do efeito imediato sobre os trabalhadores diretos, estima-se que mais de 300 empregos indiretos também sejam afetados, entre fornecedores, transportadoras e prestadores de serviço terceirizados. Não por acaso, enquanto a unidade de Três Corações é desativada, a ADM amplia sua presença no México com a inauguração de uma nova planta de alimentos úmidos em Yecapixtla. A mudança de foco para fora do Brasil indica um reposicionamento estratégico da companhia, mas também um sintoma do enfraquecimento da cadeia industrial nacional — especialmente em setores dominados por multinacionais.